terça-feira, 20 de dezembro de 2016

The OA - Netflix

The OA é uma série criada pela dupla Zal Batmanglij e Brit Marling (Brit Marling também é a protagonistas da série) e produzida pela netflix, onde estreou sem muita divulgação, mas com bastante destaque no menu de títulos. E para falar de The OA, vou citar um trecho do primeiro episódio, que é o resumo perfeito do que esperar da produção:

“Vou lhes contar minha história do começo. E uma hora, vocês entenderão por que estão aqui... O que podem fazer juntos... Como podem ajudar pessoas que nunca encontrarão. Mas vocês tem que fingir que confiam em mim até que realmente confiem.”

Com esse diálogo, a protagonista OA começa contar a sua história, para os outros personagens e para audiência, que vivencia um pouco de sua oratória antes de embarcar na imaginação dos ouvintes da cena, que sempre escutam tudo com atenção, enquanto esperam não estar ouvindo um sonho e sim um flashback.

The OA te intriga desde a primeira cena, com uma fotografia criativa, que entrega uma primeira surpresa que te chama atenção, num momento da narrativa, que se fosse feito de outro jeito, seria clichê. A série aos poucos vai te entregando fatos, que precisam ser explicados, mas que em nenhum momento deixam de ser fatos que podem ser questionados. E é prestando atenção nesses fatos, que você no clímax final da temporada irá julgar se realmente confia em OA, ou se só vai continuar fingindo que confia.

A Fotografia novamente é fundamental para fazer a audiência embarcar no mundo da série, pois se apoia em simples efeitos nas transições, que acompanha uma trilha melancólica para dar o tom da produção. Alguns episódios são longos, mas isso acontece, pois cada episódio é um ciclo e cada ciclo tem o tempo que precisa. A série também gira em torno do presente de cada personagem, onde cada um tem os seus problemas, e a série mostra cada um buscando força ou serenidade que cada personagem precisa para vencê-los.

Mas é o clímax que é fundamental para que cada um crie a própria opinião sobre a série, pois é nesse momento que ela entrega uma avalanche de fatos, que em nenhum momento tenta explica-los. Todos ficam soltos pelo ar e a série te obriga a juntá-los por conta própria e assim responder a pergunta principal, que é você confia nela mesmo assim ou vai continuar fingindo que acredita? A partir daí ele finaliza num acontecimento que fecha a temporada de forma precisa, pois não deixa um forte Cliffhanger (gancho). 

Assim a Netflix pode finalizar a série por aqui e veremos as nossas imaginações decidir qual é o final, ou ela pode dar uma nova temporada e responder de forma clara a pergunta.


Foi tudo um sonho ou... ? (Veja a série e preencha a segunda parte da pergunta por você mesmo). Por bem ou por mal, essa é uma série que vale a pena ser assistida.




Texto: Leandro Ferreira

Disponível na Netflix

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Selma - de Ava DuVernay

Selma é um filme dirigido por Ava DuVernay. Esse é o segundo filme que assisto da diretora, o primeiro foi o documentário “13ª emenda” que está disponível na Netflix, e já posso dizer que ela é digna de nota. Ava sabe alinhar perfeitamente a trilha-sonora no roteiro, com músicas que descrevem a resistência e o sofrimento do povo negro americano no momento exato que ela cria para reflexão. Ava DuVernay usa certas partes dessas excelentes canções para contar ou confirmar pontos de vistas durante as transições de cenas, e isso a deixa uma marca notável e impressionante nos filmes que ela dirige.

Selma seria um problema para qualquer diretor, pois é um fato histórico, um fato real, que trouxe mudanças radicais para o povo norte americano passando por cima de preconceitos que existiam em um falso discurso de liberdade, para trazer igualdade. Selma trás figuras históricas e muito importantes para os Estados Unidos, como Pastor Martin Luther King Jr, o presidente Lyndon B. Johnson, o diretor do FBI John Edgar Hoover, Malcolm X e a ativista e esposa de Martin Luther King, Coretta King. A tentação de focar em algum desses personagens é grande, principalmente em King, mas a diretora foi precisa em perceber que a história era sobre a cidade, sobre os direitos e não só sobre os personagens.

Com tal decisão, a diretora contou vários pontos de vistas e não apenas um. Em duas horas, nós podemos conhecer como o presidente, o governador do Alabama, a cidade de parte branca, a cidade de parte negra, os movimentos estudantis, os religiosos, a polícia de Selma, a imprensa, além de todo o staff de Martin Luther King Jr atuaram nesse fato histórico, sem precisa somente focar na figura influente do pastor. Um trabalho primoroso, que infelizmente foi esnobado nas grandes premiações.

Vimos o FBI monitorando toda a situação e fazendo de tudo para achar um erro que desmoralizasse o pastor, mas vimos que eles não faziam nada contra as constantes ameaças que a toda a família do pastor recebia. Vimos movimentos estudantis divididos, pois alguns personagens das lideranças apoiaram a ajuda de King, enquanto outros não, pois tinham medo de perder o protagonismo. A diretora focou na família e em Coretta sem precisa focar nenhuma vez nas crianças, manobra importante, que deixou claro como funcionava o núcleo da família, sem se render a sensacionalismo barato. Vimos a parte branca do estado e seus preconceitos, a bandeira dos estados confederados sendo exposta por brancos com orgulho, o símbolo do racismo americano. Além do presidente dos Estados Unidos da Época, o Lyndon B. Johnson, muito preocupado em ser político, mas se vendo obrigado a ser humano.


Sem falar da figura interna do pastor Martin Luther King Jr, que entrega toda a figura poderosa da lenda, dentro dos discursos, mas com uma atuação excelente de David Oyelowo, que com pausas e um olhar revelador, traduziu toda a estratégia de Martin, que sabia a hora de falar e sabia a hora de ficar calado e ler a situação. O filme expos todo o caráter estratégico do movimento de King, que não era só paz, mas sim de ação, que só se provava eficiente se viesse usando a paz.


O filme é obrigatório para todos os que não se dizem racistas, mas que não vêem problema em espalhar o ódio, pois opinião é dela e ninguém tem nada com isso. O sul dos Estados Unidos em 1965 também pensava assim, que a opinião era dela e ninguém tinha que se meter na vida delas, e olha quantas mortes isso ocasionou.



Texto: Leandro Ferreira

Disponível no Now e no TeleCine Play


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Zootopia: Essa cidade é o bicho - de Byron Howard e Rich Moore


Zootopia: Essa cidade é o bicho, cria um mundo vasto e cheio de possibilidades, onde nele não existem humanos e onde todos os animais que chamamos de irracionais são os seres inteligentes. O filme foi brilhante em apresentar uma abordagem de mundo totalmente novo, que não precisa de grandes explicações. Logo em seu inicio, a protagonista ainda criança, explica tudo através de uma peça escolar infantil. Solução fácil, didática, eficiente e para todas as idades.

Com o mundo estabelecido, a narrativa nos expõe os problemas da sociedade animal, que não são nada diferentes da nossa sociedade humana. Medo do diferente, medo de se tornar vítima, preconceitos pré-estabelecidos por você ter nascido em uma determinada espécie, corrupção, manias exageradas, entre outros problemas são explorados com calma e sutileza durante o filme. Tudo isso é bem amarrado quando acompanhamos a protagonista, a coelha Judy.

Judy é uma coelha que os próprios pais (esses por amá-la) e outros animais (esses por preconceitos) tentam aconselha-la a desistir de seu sonho, que é se tornar uma policial. Em Zootopia nenhum coelho jamais se tornou policial, por serem pequenos e ter uma boa habilidade para a plantação, principalmente a de cenouras. O roteiro se desenvolve com o seu crescimento, mostrando todas as dificuldades que ela encontra, que mesmo sendo realmente difíceis e até um pouco impossível de romper, ela supera tudo com esforço e determinação e alcançou os seus sonhos, destruindo todos os preconceitos.

Judy nos mostra que é possível realizar os nossos sonhos, mas ela se mostra diferente, quando deixa claro que nem tudo vale a pena para realizar esses sonhos. Zootopia se torna diferente quando mostra lições diferentes, que saem mesmo partindo do convencional, dão um passe além e se descreve lições reais, lições que podem praticar em nossas vidas e principalmente na criação de nossas crianças e adolescentes.


Zootopia: Essa cidade é o bicho, é uma excelente lição para quem quer algo mais de um filme, é excepcional para quem curte a evolução das animações, principalmente nas composições de cenários e detalhes do design no porte dos animais e é divertido, para quem só quer assistir um bom filme.




Texto: Leandro Ferreira

Disponível no TelecinePlay e Now


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Missão Madrinha de Casamento - de Paul Feig


Missão Madrinha de Casamento é uma comédia no estilo da velha guarda, mas com temperos atuais. Ela apresenta seus personagens, e cria uma missão que se torna a jornada para entrega alguma lição no final. Embora a comédia siga a receita direitinho, ela inova em alguns outros pontos, que a fazem se destacar das outras, pois ela dá um real espaço para as coadjuvantes, não força na mensagem e faz rir naturalmente, criando pequenos esquetes dentro do roteiro, onde o espectador vê situações embaraçosas, mas proporciona aos atores, momentos para criar e improvisar, sem destruir o andamento do projeto.

O diretor Paul Feig (O mesmo de The Wonders: O sonho não acabou, Te pego lá fora e Ligeiramente Grávidos) encara a direção sem preconceitos e em momentos certos, liberam as atrizes para agir do jeito que quiserem, para um olhar conservador, esse filme será muito grotesco, mas para quem já ultrapassou essa barreira, vai garantir pelo menos alguns momentos de risada. O diretor trabalhou na edição muito bem, com expectativa e ação na mesma sequência, ao criar uma rixa entre duas personagens, ele usava a expectativa tirada da tensão entre as duas e liberava as coadjuvantes para brilhar, principalmente com improvisos e muito humor físico, onde a atriz Melissa McCarthy ganha todos os destaques.

Esses esquetes dentro da história são o ponto alto do filme. Situações como a prova do vestido de noiva, viagem de avião, chá de panela e decisão sobre onde vai ser a despedida de solteira, quebraram o ritmo e garantiram as melhores gargalhadas. Kristen Wiig dominou o restante do filme, que explorou um momento de dificuldade da protagonista para passar uma mensagem e nos fazer sorrir no processo.


Missão madrinha de casamento é uma excelente pedida para quem quer se divertir, abra o coração, comece a ver o filme e relaxe, pois as atrizes sabem o que fazer para garantir diversão, até quando o roteiro não ajuda.



Texto: Leandro Ferreira

Disponível na NetFlix

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Gilmore Girls: A Year in the Life - Netflix

Gilmore Girls nunca foi uma série famosa, mas sempre foi uma série de fãs fieis. Antigamente eu achava que era culpa do mundo que Amy Sherman-Palladino criou para elas viverem, pois elas falavam muito rápido, numa conversa lotada de referencias, em uma cidade que beirava insanidade e isso era realmente difícil de acompanhar, mas hoje eu vejo que a série era difícil de acompanhar por outros motivos, ela era muito progressista para a sua época e mesmo assim apresentava um roteiro suave, que era difícil questionar, então era mais fácil ignorar.

Lógico que o canal Warner, que virou CW não ajudava na audiência, mas se fosse tão boa, tinha durado mais, veja por Supernatural, que parece eterna e já existia quando Gilmore Girls ainda estava no ar. Ela era tão progressista, que era até embaraçoso fazer o teste de Bechdel nela, pois as duas protagonistas e pelo menos mais da metade das coadjuvantes eram mulheres, elas conversavam entre si o tempo inteiro, e elas quase não falavam de homens, pelo contrário, falar de homem beirava tabu, principalmente entre as protagonistas, mãe e filha, Lorelai mãe e Lorelai filha (A filha é mais conhecida como Rory).
Depois de acompanhar a série por sete anos, me decepcionei por ela ter terminado como fim de capítulo e não como um fim de jornada. O último episódio foi melhor que toda a última temporada, foi gostoso ver, mas não foi o fim que os fãs e a equipe mereciam. Então ela voltou graças ao poder da Netflix, com a produtora original, que produziu quatro episódios que percorrem um ano na vida dessas duas grandes protagonistas e entrega o que os fãs e todos que amam a série mereciam no final, o fim da jornada.

Todo o elenco original voltou, e olha que não deve ter sido algo fácil, pois hoje Melissa McCarthy é estrela mundial e muitos atores emplacaram sucessos na TV, que é o caso de Lauren Graham (Parenthood), Liza Weil (How To Get Away with Murder), Milo Ventimiglia (Heroes), Matt Czuchry (The Good Wife) e Jared Padalecki (Supernatural). Alexis Bledel não fez tanto sucesso como em Gilmore Girls, mas foi protagonista de filmes e participou de Sin City, mesmo sem destaque, conseguiu uma carreira sólida. O único que não voltou foi Edward Herrman, que infelizmente faleceu, então a série começa o seu primeiro episódio de luto.

Dividir a série em quatro capítulos e cada um com uma estação do ano foi um acerto, pois não deixou a série muito grande e nós pudemos reviver uma temporada inteira novamente, do jeito que era antigamente, antes era de Setembro a Maio. Voltamos a ver Lorelai prevendo a neve no olfato, às loucuras que elas fazem quando são encurraladas, as brigas entre as mulheres Gilmores e o laço inquebrável que as seguram. Só que essa temporada é especial, por causa da autenticidade entre os personagens, da cidade que voltou a pulsar, a relação Lorelai e Luke e Rory cercada de homens, todos apaixonados, mas o que consegue a sua atenção, nunca sendo capaz de entregar o que ela mais precisa, que é a liberdade, erro que todos os namorados cometeram e erro que Luke nunca cometeu com Lorelai. Tudo voltou e tudo estava normal, a pousada e seus hospedes peculiares, Sookie sendo Sookie, Luke sendo Luke, Paris sendo Paris, Michel sendo Michel, Lane sendo Lane, Kirk sendo Kirk, Miss Paty sendo Miss Paty, mas Emily evoluiu, Lorelai evoluiu e Rory amadureceu.


A série pode continuar, eu vou adorar, mas a conclusão foi perfeita. Uma história foi escrita, teve inicio, meio e fim, e eu adorei cada minuto dessa jornada.



Texto: Leandro Ferreira

Disponível completa na NetFlix 

Lucy - de Luc Besson

Lucy é um filme de 2014 que foi dirigido por Luc Besson (o mesmo diretor de O Quinto Elemento). Scarlet Johansson deixa claro que sabe muito bem entregar uma personagem para filmes de ação, com uma atuação firme, que flutua bem em todos os momentos que sua personagem vive na narrativa, desde o mais apavorante até o mais bad ass. Com uma edição ágil de cortes rápidos, com quebras e efeitos visuais e sonoros bem usados, o diretor nos coloca numa ação desenfreada com folego para aguentar até o final.

A premissa é simples, nós humanos somos capazes de usar 10% de nosso cérebro, mas cientistas financiados pela máfia conseguiram produzir sinteticamente uma substância chamada CPH4, (que é produzida pela mãe na gestação e possibilita que o feto consiga desenvolver os seus ossos) para usar no composto químico de uma nova droga. Lucy é uma mulher normal, que está em Hong Kong para estudar, mas ao se envolver com o cara errado, acaba sequestrada e usada como mula para a droga. Só que algo dá errado e toda droga é absorvida pelo organismo de Lucy e ela começa a aumentar a sua capacidade cerebral, que a transforma numa fusão entre o Superman, professor Xavier e Goku.

Com uma preocupação demasiada em justificar cientificamente tudo o que acontece na tela, o diretor não convence os céticos, mas ao menos acerta em jeito no ritmo e no tempo do filme, que é curto o suficiente para que ninguém enjoe da trama, embora tenha um final polêmico, que ou você entende e compra a ideia, ou você vai odiar o filme com todas as forças.


Cada filme de ação e aventura que vejo com Scarlet Johansson, mas me convenço que ela tem a mesma importância hoje, que Harrison Ford, Mel Gibson e Bruce Willlis tiveram numa passado recente.



Texto: Leandro Ferreira

Disponível na Netflix


O Regresso - de Alejandro González Iñárritu

O Regresso é um filme dirigido pelo premiadíssimo diretor Alejandro González Iñárritu (o mesmo de Birdman, 21 gramas, Biutiful e Babel), que com essa obra venceu o Oscar de melhor diretor na premiação de 2016. O filme se equilibra entre qualidades e defeitos, o que potencializa algumas características. Iñárritu entregou uma obra longa e com um roteiro arrastado, que repetiu situações, na esperança de encantar em uma “poesia visual”, mas que só serviu para me tirar do filme por inúmeras vezes.

Tirando esses problemas óbvios, me incomodou muito a necessidade de aparecer do diretor em vários momentos. Com uma fotografia fantástica, uma trilha sonora sólida e com algumas atuações memoráveis, o diretor se destaca em algumas decisões, como na famosa cena do urso, onde ele dirige uma sequência difícil, com um plano sequência que não confundi e nos passa o exato sentimento que precisávamos para admirar a atuação do protagonista. As cenas das florestas com perseguições, foi uma outra boa sacada, pois a decisão por alguns planos sequência com alguns jogos de ângulos e lentes, nos mostrou o quão perdido alguns personagens estavam na situação e ao mesmo tempo nos deu a exata situação que esses personagens se encontravam.

Certamente Iñarritu conseguiu o que queria com alguns louros em premiações e cenas que vão ser objeto de estudos para atuais e futuros cineasta, mas infelizmente o excesso dessas situações, trouxe um filme um pouco maçante e um pouco esquecível, que felizmente não irá apagar pelo menos quatro ótimas atuações,  do cacique interpretado por Duane Howard, do capitão vivido por Domhnall Gleeson (Questão de Tempo), do explorador que contou com a atuação de Tom Hardy (Mad Max: Fury Road e a Origem) e de Leonardo DiCaprio, que fez uma atuação única e tão intensa, que se o diretor só se preocupasse em capitar os momentos e não tentasse atrapalhar tanto, teria sido mais impressionante do que foi.



O Regresso é Leonardo DiCaprio em grande forma, mas que teve um diretor mais preocupado em mostrar como ele é bom, do que entregar uma obra prima de verdade, que esse filme tinha totais condições de ser.



Texto: Leandro Ferreira
Disponível no Now da Net/Claro.