segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Selma - de Ava DuVernay

Selma é um filme dirigido por Ava DuVernay. Esse é o segundo filme que assisto da diretora, o primeiro foi o documentário “13ª emenda” que está disponível na Netflix, e já posso dizer que ela é digna de nota. Ava sabe alinhar perfeitamente a trilha-sonora no roteiro, com músicas que descrevem a resistência e o sofrimento do povo negro americano no momento exato que ela cria para reflexão. Ava DuVernay usa certas partes dessas excelentes canções para contar ou confirmar pontos de vistas durante as transições de cenas, e isso a deixa uma marca notável e impressionante nos filmes que ela dirige.

Selma seria um problema para qualquer diretor, pois é um fato histórico, um fato real, que trouxe mudanças radicais para o povo norte americano passando por cima de preconceitos que existiam em um falso discurso de liberdade, para trazer igualdade. Selma trás figuras históricas e muito importantes para os Estados Unidos, como Pastor Martin Luther King Jr, o presidente Lyndon B. Johnson, o diretor do FBI John Edgar Hoover, Malcolm X e a ativista e esposa de Martin Luther King, Coretta King. A tentação de focar em algum desses personagens é grande, principalmente em King, mas a diretora foi precisa em perceber que a história era sobre a cidade, sobre os direitos e não só sobre os personagens.

Com tal decisão, a diretora contou vários pontos de vistas e não apenas um. Em duas horas, nós podemos conhecer como o presidente, o governador do Alabama, a cidade de parte branca, a cidade de parte negra, os movimentos estudantis, os religiosos, a polícia de Selma, a imprensa, além de todo o staff de Martin Luther King Jr atuaram nesse fato histórico, sem precisa somente focar na figura influente do pastor. Um trabalho primoroso, que infelizmente foi esnobado nas grandes premiações.

Vimos o FBI monitorando toda a situação e fazendo de tudo para achar um erro que desmoralizasse o pastor, mas vimos que eles não faziam nada contra as constantes ameaças que a toda a família do pastor recebia. Vimos movimentos estudantis divididos, pois alguns personagens das lideranças apoiaram a ajuda de King, enquanto outros não, pois tinham medo de perder o protagonismo. A diretora focou na família e em Coretta sem precisa focar nenhuma vez nas crianças, manobra importante, que deixou claro como funcionava o núcleo da família, sem se render a sensacionalismo barato. Vimos a parte branca do estado e seus preconceitos, a bandeira dos estados confederados sendo exposta por brancos com orgulho, o símbolo do racismo americano. Além do presidente dos Estados Unidos da Época, o Lyndon B. Johnson, muito preocupado em ser político, mas se vendo obrigado a ser humano.


Sem falar da figura interna do pastor Martin Luther King Jr, que entrega toda a figura poderosa da lenda, dentro dos discursos, mas com uma atuação excelente de David Oyelowo, que com pausas e um olhar revelador, traduziu toda a estratégia de Martin, que sabia a hora de falar e sabia a hora de ficar calado e ler a situação. O filme expos todo o caráter estratégico do movimento de King, que não era só paz, mas sim de ação, que só se provava eficiente se viesse usando a paz.


O filme é obrigatório para todos os que não se dizem racistas, mas que não vêem problema em espalhar o ódio, pois opinião é dela e ninguém tem nada com isso. O sul dos Estados Unidos em 1965 também pensava assim, que a opinião era dela e ninguém tinha que se meter na vida delas, e olha quantas mortes isso ocasionou.



Texto: Leandro Ferreira

Disponível no Now e no TeleCine Play


Nenhum comentário:

Postar um comentário