Selma é um filme dirigido por Ava
DuVernay. Esse é o segundo filme que assisto da diretora, o primeiro foi o
documentário “13ª emenda” que está disponível na Netflix, e já posso dizer que
ela é digna de nota. Ava sabe alinhar perfeitamente a trilha-sonora no roteiro,
com músicas que descrevem a resistência e o sofrimento do povo negro americano
no momento exato que ela cria para reflexão. Ava DuVernay usa certas partes
dessas excelentes canções para contar ou confirmar pontos de vistas durante as
transições de cenas, e isso a deixa uma marca notável e impressionante nos
filmes que ela dirige.
Selma seria um problema para
qualquer diretor, pois é um fato histórico, um fato real, que trouxe mudanças
radicais para o povo norte americano passando por cima de preconceitos que
existiam em um falso discurso de liberdade, para trazer igualdade. Selma trás
figuras históricas e muito importantes para os Estados Unidos, como Pastor Martin
Luther King Jr, o presidente Lyndon B. Johnson, o diretor do FBI John Edgar
Hoover, Malcolm X e a ativista e esposa de Martin Luther King, Coretta King. A
tentação de focar em algum desses personagens é grande, principalmente em King,
mas a diretora foi precisa em perceber que a história era sobre a cidade, sobre
os direitos e não só sobre os personagens.
Com tal decisão, a diretora
contou vários pontos de vistas e não apenas um. Em duas horas, nós podemos
conhecer como o presidente, o governador do Alabama, a cidade de parte branca,
a cidade de parte negra, os movimentos estudantis, os religiosos, a polícia de
Selma, a imprensa, além de todo o staff de Martin Luther King Jr atuaram nesse
fato histórico, sem precisa somente focar na figura influente do pastor. Um
trabalho primoroso, que infelizmente foi esnobado nas grandes premiações.
Vimos o FBI monitorando toda a
situação e fazendo de tudo para achar um erro que desmoralizasse o pastor, mas
vimos que eles não faziam nada contra as constantes ameaças que a toda a
família do pastor recebia. Vimos movimentos estudantis divididos, pois alguns personagens
das lideranças apoiaram a ajuda de King, enquanto outros não, pois tinham medo
de perder o protagonismo. A diretora focou na família e em Coretta sem precisa
focar nenhuma vez nas crianças, manobra importante, que deixou claro como
funcionava o núcleo da família, sem se render a sensacionalismo barato. Vimos a
parte branca do estado e seus preconceitos, a bandeira dos estados confederados
sendo exposta por brancos com orgulho, o símbolo do racismo americano. Além do
presidente dos Estados Unidos da Época, o Lyndon B. Johnson, muito preocupado
em ser político, mas se vendo obrigado a ser humano.
Sem falar da figura interna do
pastor Martin Luther King Jr, que entrega toda a figura poderosa da lenda,
dentro dos discursos, mas com uma atuação excelente de David Oyelowo, que com
pausas e um olhar revelador, traduziu toda a estratégia de Martin, que sabia a
hora de falar e sabia a hora de ficar calado e ler a situação. O filme expos
todo o caráter estratégico do movimento de King, que não era só paz, mas sim de
ação, que só se provava eficiente se viesse usando a paz.
O
filme é obrigatório para todos os que não se dizem racistas, mas que não vêem
problema em espalhar o ódio, pois opinião é dela e ninguém tem nada com isso. O
sul dos Estados Unidos em 1965 também pensava assim, que a opinião era dela e
ninguém tinha que se meter na vida delas, e olha quantas mortes isso ocasionou.
Texto: Leandro Ferreira
Disponível no Now e no TeleCine
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