terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A Grande Aposta - De Adam McKay

O filme é baseado em fatos reais e expõe pessoas reais. Ele mostra desde o início a causa da crise de 2008, mas se concentra no momento que é descoberto a bolha das hipotecas americanas, e em sequência, ele apresenta quatro personagens centrais que vão sustentar a narrativa e explicar didaticamente tudo o que está acontecendo. Steve Carrell, Brad Pitt, Christian Bale e Ryan Gosling são os atores que encenam os quatro personagens centrais da trama, e cada um vai trazer uma visão distinta do que aconteceu para ilustrar a catástrofe que foi a crise, que acabou com o lar de milhares de americanos e o emprego de milhões de pessoas pelo mundo.

O filme acerta muito bem ao separar a trama nesses quatro personagens. A personalidade e ambições distintas deles mostram um lado bem ilustrativo dos fatos, e o diretor acerta em alguns flashbacks e quebras para explicação. Eu particularmente gostei muito de uma quebra onde ele explica CDO com um famoso chefe de cozinha através das sobras dos peixes. O diretor também acerta bastante no ritmo da narrativa, que mesmo com um conteúdo vasto de explicações, não torna o filme cansativo.

A atuação dos quatro principais também é de se destacar, a construção de Brad Pitt é ótima e combina bastante com os dois atores que são seus pupilos. Steve Carrell ganha destaque com seu temperamento, ele tenta mostrar o tempo todo como são desprezíveis as pessoas com quem ele trabalha, para não ter que pensar que ele é tão desprezíveis como elas. Christian Bale se destaca pela complexidade de seu personagem, que de longe é o mais difícil dos quatro, tanto que uma das decepções foi justamente a falta de tempo que o ator teve para desenvolvê-la.  Ryan Gosling faz a vez do narrador e é o responsável pelas quebras da quarta parede. Seu jeito canastra caiu como uma luva para chamar a nossa atenção quando o filme precisava fazer alguma explicação mais complicada.

Mas foi justamente com alguns desses acertos que o diretor mais me incomodou. Tendo uma história fantástica, atores afiados e ideias muito boas, ele para mim pecou no excesso. A quarta parede estava ótima com Ryan Gosling, mas o uso de outros personagens nessa técnica me incomodou bastante, ainda mais, pois veio sem um padrão. Decepção foi Igual com os flashbacks, que foram muitos e até apelativos, como a do personagem do Steve Carrell com seu irmão. As quebras foram feitas em bons momentos, mas se estendeu no da Selena Gomes ou distraiu demais a explicação, como com da Maggie Robbie.

Mas o que mais me incomodou, foi a tentativa exagerada de ser um Lobo de Wall Street, mas sem a coragem que Scorsese teve. Em O Lobo de Wall Street, Scorsese escolhia um limite aceitável para destruí-lo e assim mostrou quem era o Lobo, como ele pensava e como ele foi capaz de chegar onde chegou. Em A Grande Aposta o limite era destruído para criar uma oportunidade para desculpas e condenações. Uma cena que mostra bem isso é o do personagem de Steve Carrell num cassino com um empresário, Carrell o condenava e o empresário se divertia. O empresário se diverte porque não entende a condenação, pois o personagem de Carrell é igual se não for pior.



A Grande Aposta é um filme dirigido por Adam McKay, (que tem bons trabalhos em “O Âncora” e em “Homem Formiga”). Mesmo com um diretor vindo de bons trabalhos de comédia, o filme vive momentos de comédia, mas é entregue como um drama, que bebe da fonte do feroz “O Lobo de Wall Street”, mas não tem a mesma vitalidade e coragem.



Texto: Leandro Ferreira
Disponível na NetFlix

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