O filme é baseado em fatos
reais e expõe pessoas reais. Ele mostra desde o início a causa da crise de
2008, mas se concentra no momento que é descoberto a bolha das hipotecas
americanas, e em sequência, ele apresenta quatro personagens centrais que vão
sustentar a narrativa e explicar didaticamente tudo o que está acontecendo.
Steve Carrell, Brad Pitt, Christian Bale e Ryan Gosling são os atores que
encenam os quatro personagens centrais da trama, e cada um vai trazer uma visão
distinta do que aconteceu para ilustrar a catástrofe que foi a crise, que
acabou com o lar de milhares de americanos e o emprego de milhões de pessoas
pelo mundo.
O filme acerta muito bem ao
separar a trama nesses quatro personagens. A personalidade e ambições distintas
deles mostram um lado bem ilustrativo dos fatos, e o diretor acerta em alguns
flashbacks e quebras para explicação. Eu particularmente gostei muito de uma
quebra onde ele explica CDO com um famoso chefe de cozinha através das sobras
dos peixes. O diretor também acerta bastante no ritmo da narrativa, que mesmo
com um conteúdo vasto de explicações, não torna o filme cansativo.
A atuação dos quatro principais
também é de se destacar, a construção de Brad Pitt é ótima e combina bastante
com os dois atores que são seus pupilos. Steve Carrell ganha destaque com seu
temperamento, ele tenta mostrar o tempo todo como são desprezíveis as pessoas
com quem ele trabalha, para não ter que pensar que ele é tão desprezíveis como
elas. Christian Bale se destaca pela complexidade de seu personagem, que de
longe é o mais difícil dos quatro, tanto que uma das decepções foi justamente a
falta de tempo que o ator teve para desenvolvê-la. Ryan Gosling faz a vez do narrador e é o
responsável pelas quebras da quarta parede. Seu jeito canastra caiu como uma
luva para chamar a nossa atenção quando o filme precisava fazer alguma
explicação mais complicada.
Mas foi justamente com alguns
desses acertos que o diretor mais me incomodou. Tendo uma história fantástica,
atores afiados e ideias muito boas, ele para mim pecou no excesso. A quarta
parede estava ótima com Ryan Gosling, mas o uso de outros personagens nessa
técnica me incomodou bastante, ainda mais, pois veio sem um padrão. Decepção
foi Igual com os flashbacks, que foram muitos e até apelativos, como a do
personagem do Steve Carrell com seu irmão. As quebras foram feitas em bons
momentos, mas se estendeu no da Selena Gomes ou distraiu demais a explicação,
como com da Maggie Robbie.
Mas o que mais me incomodou, foi
a tentativa exagerada de ser um Lobo de Wall Street, mas sem a coragem que
Scorsese teve. Em O Lobo de Wall Street, Scorsese escolhia um limite aceitável para
destruí-lo e assim mostrou quem era o Lobo, como ele pensava e como ele foi
capaz de chegar onde chegou. Em A Grande Aposta o limite era destruído para
criar uma oportunidade para desculpas e condenações. Uma cena que mostra bem
isso é o do personagem de Steve Carrell num cassino com um empresário, Carrell
o condenava e o empresário se divertia. O empresário se diverte porque não
entende a condenação, pois o personagem de Carrell é igual se não for pior.
A Grande Aposta é um filme
dirigido por Adam McKay, (que tem bons trabalhos em “O Âncora” e em “Homem
Formiga”). Mesmo com um diretor vindo de bons trabalhos de comédia, o filme vive
momentos de comédia, mas é entregue como um drama, que bebe da fonte do feroz “O
Lobo de Wall Street”, mas não tem a mesma vitalidade e coragem.
Texto: Leandro Ferreira
Disponível na NetFlix
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